Quando pensamos em obesidade, geralmente lembramos de doenças como diabetes tipo 2, hipertensão e problemas cardiovasculares. Mas há um aspecto igualmente importante, e menos comentado, que merece atenção: a saúde mental.
Segundo dados do Ministério da Saúde (Vigitel 2023), 25,9% dos brasileiros já vivem com obesidade e mais da metade da população adulta está acima do peso. Por trás desses números, existe uma carga emocional significativa. A obesidade pode afetar o humor, a autoestima e até a forma como a pessoa se relaciona com o mundo.
Neste artigo, vamos compreender a relação entre obesidade e saúde mental, os efeitos desse ciclo, os obstáculos impostos pela sociedade e estratégias para superar preconceitos.
Obesidade e saúde mental: os dois lados da moeda
De um lado, viver com obesidade pode aumentar o risco de desenvolver depressão, ansiedade e isolamento social.
Pesquisas publicadas no JAMA Psychiatry mostram que pessoas com obesidade têm 55% mais risco de desenvolver depressão ao longo da vida. Alterações hormonais, inflamação crônica e experiências de preconceito são alguns fatores que explicam essa conexão. Essas alterações podem desregular substâncias ligadas ao bem-estar, como serotonina e dopamina, favorecendo quadros de ansiedade e depressão.
Além disso, uma meta-análise recente (2025) mostrou que pessoas com obesidade têm cerca de 30% mais chance de desenvolver transtornos de ansiedade, reforçando como esse impacto na mente pode ser profundo
Por outro lado, problemas emocionais e psicológicos podem levar a comportamentos que favorecem o ganho de peso, como alimentação compulsiva, sedentarismo e dificuldade de manter hábitos saudáveis, criando um ciclo difícil de quebrar.
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Padrões de beleza: quando a pressão se transforma em peso emocional
Além dos impactos físicos e biológicos, existe o peso das expectativas sociais. A cultura da magreza e a padronização da beleza colocam pressão extra sobre quem está fora do ideal estético propagado pela mídia, redes sociais e indústria da moda.
Esse padrão não se restringe apenas a imagens e propagandas, mas também se manifesta em detalhes do dia a dia, como:
- Poltronas de cinema e assentos de avião estreitos, que não comportam diferentes tipos de corpos;
- Coleções de roupas limitadas a tamanhos menores, restringindo opções para pessoas com corpos maiores; e
- Equipamentos de academia e espaços públicos pouco inclusivos, que podem causar constrangimento.
Essas situações reforçam um sentimento de inadequação e exclusão. Pesquisas da Mental Health Foundation indicam que 1 em cada 5 adultos já se sentiu envergonhado com o próprio corpo e esse desconforto pode levar a evitar sair de casa ou participar de eventos sociais.
Impactos da obesidade na mente
A obesidade pode afetar o bem-estar psicológico de várias formas. Entre as mais comuns, estão:
1. Depressão
Críticas, preconceito e tentativas frustradas de emagrecimento podem contribuir para quadros de depressão. Além disso, processos inflamatórios ligados à obesidade também estão associados a alterações no humor.
2. Isolamento social
O medo de julgamentos ou constrangimentos pode levar a pessoa a evitar interações sociais, diminuindo a rede de apoio.
3. Distúrbios alimentares
A compulsão alimentar periódica é mais frequente em pessoas com obesidade, porque fatores emocionais, sociais e biológicos se misturam. Alterações hormonais ligadas à fome e à saciedade, como resistência à leptina (hormônio da saciedade), podem favorecer episódios de ingestão exagerada. Além disso, sentimentos de ansiedade, estresse e baixa autoestima muitas vezes levam a usar a comida como forma de alívio ou recompensa.
4. Qualidade de vida
A obesidade pode afetar diretamente a rotina. A dificuldade para praticar atividades físicas, a má qualidade do sono e a falta de disposição são consequências conhecidas do sobrepeso e, muitas vezes, se tornam barreiras adicionais para quem deseja adotar hábitos mais saudáveis. O sono, por exemplo, pode ser prejudicado pelo ronco e pela apneia do sono – distúrbio mais comum em pessoas com excesso de peso, além do desconforto físico que dificulta o descanso. Esses fatores comprometem a energia, o bem-estar emocional e a motivação, criando um ciclo que pode agravar sintomas de ansiedade e depressão.
Ambiente seguro, mente saudável: dicas para cuidar da saúde mental
Viver com obesidade e cuidar da saúde mental envolve construir um ambiente que favoreça seu bem-estar físico e emocional.
- Converse sobre o que sente: pode ser com um familiar de confiança, um amigo próximo ou, se for difícil encontrar esse espaço, com um profissional de saúde. Compartilhar experiências ajuda a aliviar a carga emocional e a fortalecer vínculos.
- Estabeleça pequenos hábitos de autocuidado: mantenha horários regulares de sono e reserve alguns minutos do dia para atividades que você gosta, como ler, ouvir música ou caminhar. Faça pequenas pausas para respirar, alongar-se ou simplesmente relaxar. Inclua também atividade física regular, mesmo que leve, como caminhadas ou alongamentos.
Assim, esses movimentos ajudam a liberar substâncias químicas no cérebro, como endorfina e serotonina, que melhoram o humor e reduzem sintomas de ansiedade e depressão.
- Procure ajuda profissional: apoio de um especialista não é sinal de fraqueza, mas sim de autoconsciência e coragem.
Cuidar do corpo é também cuidar da mente
Portanto, o impacto da obesidade na saúde mental vai muito além do que mostram os exames físicos. Ele se reflete na autoestima, no convívio social e na forma como a pessoa se vê e é vista no mundo.
O cuidado integrado, com acompanhamento médico, psicológico e nutricional, ajuda não apenas no controle do peso, mas na construção de uma relação mais saudável com o próprio corpo.
*Fontes:
Ministério da Saúde (Vigitel 2023),
Journal of the American Medical Association (JAMA Psychiatry),