Imagine sair de casa em um dia gelado e, em vez de apenas sentir frio, seu corpo responde com manchas vermelhas, coceira e desconforto. Parece exagero? Para quem convive com alergia ao frio, essa é uma realidade constante.
Embora seja pouco conhecida, essa condição pode transformar a estação mais fria do ano em um desafio diário. E o pior: ela costuma ser confundida com resfriados ou outras alergias, dificultando o diagnóstico correto.
Neste artigo, você vai entender o que é a alergia ao frio, seus sintomas, causas, como se cuidar no dia a dia e quando é hora de procurar um especialista.
O que é alergia ao frio?
A alergia ao frio, também conhecida como urticária ao frio, é uma reação imunológica que ocorre quando o corpo entra em contato com temperaturas baixas.
Nessa condição, o organismo interpreta o frio como uma ameaça e libera histamina (substância envolvida nas reações alérgicas), causando vermelhidão, coceira e até inchaço.
É como se o sistema de defesa do corpo entendesse o frio com um invasor perigoso, acionando o alarme sem necessidade.
Esse tipo de urticária pode se manifestar após:
- Exposição ao vento frio;
- Contato com água gelada;
- Segurar objetos congelados; ou
- Nadar em piscinas ou no mar em temperaturas mais baixas.
A reação costuma ser localizada e imediata, e pode durar de minutos a algumas horas.

Alergia ao frio ou resfriado? Saiba como diferenciar
Essa dúvida é comum, especialmente porque os sintomas aparecem justamente quando as temperaturas caem. Mas existem diferenças importantes entre as duas condições:
Alergia ao Frio | Resfriado Comum |
Coceira intensa e vermelhidão na pele | Coriza, espirros, congestão nasal |
Inchaço em lábios, mãos, rosto | Dor de garganta, febre baixa |
Reação imediata após exposição ao frio | Evolução gradual dos sintomas |
Sem febre ou dor no corpo | Pode causar dor muscular e cansaço |
Sintomas localizados e de curta duração | Sintomas sistêmicos que duram dias |
Quer um exemplo? Se você lavar o rosto com água fria e ele ficar vermelho, inchado e coçando em segundos, pode ser alergia ao frio. Se espirros e coriza vierem horas depois, possivelmente é um resfriado.
Leia mais: Doenças de inverno: saiba como se proteger e cuidar da sua saúde no frio
Por que algumas pessoas desenvolvem essa alergia?
A origem da alergia ao frio ainda não é totalmente compreendida pela ciência, mas alguns fatores aumentam significativamente o risco de desenvolver a condição, como:
- Predisposição genética: pessoas com histórico familiar de urticária ou alergias cutâneas têm maior propensão.
- Doenças autoimunes ou infecciosas anteriores: infecções virais, como o vírus Epstein-Barr, podem modificar a resposta imunológica e favorecer o surgimento da alergia.
- Histórico de outras urticárias físicas: como aquelas causadas por pressão (força aplicada sobre a pele que comprime os tecidos – alça de bolsa, elástico de roupas), calor ou esforço físico.
- Exposição repetida a ambientes frios e úmidos: especialmente sem proteção adequada.
- Pós-infecções virais em adolescentes e adultos jovens: momento em que o sistema imunológico pode estar mais instável.
Do ponto de vista clínico, a urticária ao frio se divide em dois tipos:
- Idiopática ou Adquirida primária: mais comum, sem causa identificável. Surge após exposição ao frio, com urticárias (pápulas) e/ou angioedema em minutos, geralmente localizadas, mas podendo ser generalizadas e causar reações sistêmicas graves (como em natação em água fria).
- Hereditária: mais rara, geralmente aparece na infância e pode ser acompanhada de sintomas sistêmicos como febre, dor nas articulações e conjuntivite.
Em alguns casos, essa reação ao frio pode estar associada a condições mais complexas, como lúpus, crioglobulinemia ou síndrome de Schnitzler, exigindo investigação médica especializada.
Por isso, é essencial tratar a alergia ao frio com atenção e não como uma frescura ou algo passageiro. É uma condição médica legítima e merece diagnóstico e cuidado adequados.
O que dizem os estudos?
Embora ainda seja pouco comentada no dia a dia, a alergia ao frio é uma condição reconhecida pela medicina e registrada em publicações científicas de prestígio. Um estudo da Annals of Dermatology estima que até 0,05% da população mundial conviva com essa reação — especialmente entre adolescentes e jovens adultos. Pode não ser frequente, mas está longe de ser um caso isolado.
Quando a alergia ao frio é perigosa?
Na maioria das vezes, a urticária ao frio causa apenas sintomas na pele. No entanto, em situações específicas, pode evoluir para um quadro mais grave, conhecido como anafilaxia.
Essa é uma reação alérgica grave, rápida e potencialmente fatal. Ela acontece quando o sistema imunológico responde exageradamente a um agente que, normalmente, não seria perigoso — como alimentos, medicamentos, picadas de insetos ou, no caso da alergia ao frio, a baixa temperatura.
Fique alerta se surgirem:
- Inchaço na língua ou garganta;
- Dificuldade para respirar;
- Tontura ou desmaios; e
- Reação intensa e rápida após nadar em água fria.
Esses casos são raros, mas graves. Sempre busque atendimento médico imediatamente se notar esses sinais.
Como se proteger nos dias frios
Você pode, sim, levar uma vida confortável mesmo com alergia ao frio. Veja algumas dicas práticas para o dia a dia:
- Vista-se em camadas
Use roupas quentinhas, com tecidos isolantes, luvas, gorros e cachecóis. Proteja as mãos, rosto e pescoço, as áreas mais sensíveis.
- Evite água gelada
Prefira banhos mornos e não use água fria para lavar o rosto ou escovar os dentes. Se for inevitável, aqueça a água.
- Cuide da pele com carinho
O frio resseca a pele e agrava a sensibilidade. Aposte em hidratantes com ceramidas, ureia ou aveia coloidal. Use logo após o banho, com a pele ainda úmida. Você encontra mais informações em nosso texto aqui.
- Reduza a exposição a gatilhos
Evite ambientes com ar-condicionado gelado, contato direto com gelo (como em bebidas) ou atividades ao ar livre sem proteção adequada.
- Evite alimentos muito gelados
Sorvetes, água com gelo ou bebidas refrigeradas podem provocar reações, especialmente nos lábios e garganta.
Como funciona o diagnóstico? Quando é hora de procurar um médico?
Se os sintomas forem recorrentes, intensos ou impactarem sua rotina, procure um dermatologista ou alergista. O diagnóstico é geralmente clínico, mas pode incluir o teste do cubo de gelo (feito sob supervisão médica) para avaliar a reação da pele ao frio.
Esse teste consiste em aplicar um cubo de gelo envolto em plástico sobre a pele do antebraço por cerca de 1 a 5 minutos. Após a retirada, o médico observa se há formação de vermelhidão, coceira ou vergão (sinais típicos da urticária ao frio).
Atente-se: esse teste só deve ser feito com acompanhamento médico, em ambiente seguro, para evitar reações mais graves.
E o tratamento, como é feito?
O tratamento vai depender da intensidade e da frequência dos sintomas. Em geral, os cuidados envolvem:
- Antialérgicos (anti-histamínicos) de uso contínuo ou sob demanda, para prevenir ou controlar as crises;
- Cremes calmantes ou hidratantes específicos, para proteger a pele e aliviar os sintomas locais;
- Ajustes na rotina, como evitar gatilhos, proteger áreas sensíveis do corpo e adaptar hábitos diários; e
- Imunoterapia, indicada apenas em casos específicos, sob recomendação de um especialista.
E se você está com viagem marcada para destinos mais gelados, vale conversar com seu médico antes de arrumar as malas. Uma orientação preventiva pode evitar surpresas e garantir que o frio não atrapalhe seus planos.
Cuide-se neste inverno
A alergia ao frio pode parecer exagero para quem nunca viveu isso na pele, mas para quem convive com os sintomas, cada frente fria deve vir acompanhada de atenção redobrada e muito autocuidado.
Mais do que se proteger do clima, é preciso escutar o seu corpo. O que ele está dizendo com coceiras, vergões ou desconfortos? Esses sinais não são fraquezas, são pedidos de cuidado.
Se você suspeita que tenha alergia ao frio, busque orientação médica, entenda seu diagnóstico e invista nos hábitos certos para viver com mais conforto e bem-estar.
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