Quando o assunto é câncer de mama, buscar e compartilhar informação nunca é demais. Para o diagnóstico vale o lema “quanto antes melhor”. Quem nos ajuda a tirar dúvidas sobre o tema é a especialista em mastologia e oncoplastia mamária, Flávia Nery Marinho CRM/MG 26.841 @draflavianerymastologista, médica do Instituto Gestare e do Casa Delas do Instituto ORIZONTI.
O que é câncer de mama?
Tecnicamente “é a proliferação desordenada de células do epitélio mamário que, geralmente, se inicia dentro dos ductos”, explica Flávia Nery. Esse crescimento desordenado é que produz, por exemplo, nódulos que costumam ser o primeiro sintoma percebido da doença.
Segundo a médica, em sua maioria, o câncer de mama pode ser dividido entre o carcinoma ductal in situ e carcinoma ductal invasor, que são os mais comuns.
Existem algumas lesões pré-malignas que podem ser detectadas num diagnóstico feito com biópsia, como “neoplasia lobular in situ e hiperplasia ductal sem atipias ou com atipias e adenose esclerosante”, ela explica. O aparecimento dessas lesões é um dos fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama.
O que causa câncer de mama?
O câncer de mama ocorre não por uma causa exclusiva, mas por uma reunião de fatores. Alguns fatores de risco ajudam no aumento do risco da doença, como fatores genéticos, hormonais e ambientais. “Ser mulher já é um fator de risco importante”, aponta Flávia. Isso porque 99% dos casos de câncer de mama acontecem com mulheres e só 1% com homens.
No Brasil, excluídos os tumores de pele, o câncer de mama é o de maior incidência e a primeira causa de morte por câncer em mulheres em todas as regiões do Brasil, exceto o Norte. Mas há outro dado importante e que pode ter a ver com informação e prevenção. “Nos últimos anos, observou-se o aumento das taxas de incidência de câncer de mama no Brasil e no mundo; as curvas de mortalidade mostram tendência de redução ou estabilização nos países desenvolvidos e tendência de aumento em países em desenvolvimento”, diz a médica.
Isso quer dizer que, de modo geral, existem mais casos de câncer diagnosticados pelo mundo, mas a mortalidade está diminuindo, principalmente quando se tem um tratamento adequado, como ocorre em grande parte dos casos dos países chamados desenvolvidos.
Principais tipos de câncer de mama
O câncer de mama pode ser dividido em alguns tipos. Essa divisão indica não só o perigo da doença, como também a abordagem adequada de tratamento. Quem nos explica a principal característica de cada um é médica Flávia Nery Marinho:
1. Carcinoma ductal in situ (ou não invasivo)
“O carcinoma ductal in situ é definido como a proliferação de células malignas que não apresentam evidências de invasão e, por isso, não provocam metástases”.
2. Carcinoma ductal invasivo
“O carcinoma ductal invasivo é aquele no qual as células tumorais invadem os tecidos próximos ao ducto acometido pelo tumor, tendo tendência a metástases. A metástase pode acontecer em lugares próximos, como os linfonodos axilares, ou a distância, como, por exemplo, pulmões, fígado ou ossos”.
3. Doença de Paget
“A doença de Paget é um tipo raro de câncer de mama que acomete mulheres. Mas são só de 1% a 3% dos casos. Caracteriza-se pela presença de células malignas presentes na pele do mamilo, apresentando um aspecto semelhante a dermatites. Pode ter um nódulo palpável na mama ou não”.
4. Câncer de mama inflamatório
“O câncer de mama inflamatório também é mais raro. Ele é responsável por 0,5% a 2% dos casos. Ele é definido pelo aparecimento rápido de inchaço e vermelhidão na pele da mama, parecendo uma casca de laranja que se confunde com os quadros de mastite. Geralmente essa é uma doença mais agressiva”.
Câncer de mama masculino
Apesar de ainda muito pouco discutido, o câncer de mama masculino também existe. Homens, assim como as mulheres, têm tecido mamário, o que é suficiente para o desenvolvimento do câncer. É pouco frequente e costuma ocorrer em homens com idade avançada, a partir dos 65 anos. Para se ter uma ideia, para cada cem casos femininos existe apenas um masculino. O principal sintoma é um caroço no peito, geralmente indolor, mas pode acontecer a saída de sangue e secreções pelo mamilo e incômodo na axila, por causa do aumento dos gânglios linfáticos. Não custa lembrar que o diagnóstico tem que ser realizado por um mastologista.
Câncer de mama triplo negativo
Além da divisão de cânceres de mama em in situ ou invasor e outros tipos específicos, eles também são classificados a partir de um exame específico, o de imuno-histoquímica. Nesse exame, explica Flávia Nery Marinho, “eles são divididos em 4 tipos principais: luminal A; luminal B; Her2-Superexpresso e o triplo-negativo”.
Esse tipo específico de câncer tem esse nome porque não tem receptores de estrogênio e progesterona, assim como não tem o Her2-Superexpresso, explica a médica. E ela acrescenta: “são tumores mais agressivos, de crescimento rápido, que podem apresentar metástase a distância precocemente e podem estar mais ligados a pacientes com mutações hereditárias”.
Fatores de risco do câncer de mama
Existem diferentes fatores que podem favorecer o aparecimento do câncer de mama. Alguns são comportamentais, como ingestão excessiva de bebida alcoólica, sobrepeso, tabagismo, exposição à radiação e a determinadas substâncias, como agrotóxicos, benzenos e outros produtos químicos. Outros fatores de risco são genéticos: mulheres com muitos casos de câncer na família tendem a ter mais predisposição hereditária. Outros fatores que podem aumentar a chance de desenvolvimento de câncer são a primeira gravidez após os 30 anos, primeira menstruação antes dos 12 anos, uso de contraceptivos e reposição hormonal após a menopausa.
Sintomas de câncer de mama
Diagnosticar o câncer de mama em estágios iniciais é importantíssimo para o sucesso do tratamento da doença. Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, maior a chance de sobrevivência. Portanto, deve haver uma atenção redobrada aos sintomas: faça o autoexame e busque uma avaliação médica.
-
Primeiros sintomas de câncer de mama
O principal sintoma que as mulheres identificam são os nódulos nas mamas, que não apresentam dor. Por isso, é indicado o autoexame constante nas mamas e, ao sinal de qualquer alteração, deve-se buscar orientação médica. Existem ainda outros sintomas que podem indicar o câncer de mama antes mesmo da aparição dos nódulos, sendo os principais: retração de mamilos ou de pele e secreção na mama.
-
Sintomas de câncer de mama avançado
Eles vão desde sintomas locais de doença avançada como aumento da mama em relação à outra, a inchaços e vermelhidão na pele, nódulos de grandes volumes, endurecimento da mama, aumento do volume da axila e inchaço nos braços.
Quando o câncer atingiu o estágio de metástase, os nódulos nas mamas já serão de fácil identificação. Podem surgir outros sintomas associados que vão de perda de peso e apetite até icterícia. Pode ocorrer ainda dor nos ossos, incômodo nas costelas e na parte superior do abdômen, falta de ar e dor de cabeça.
Quanto tempo um câncer de mama demora para se desenvolver?
A célula com gene modificado, que vai se tornar um carcinoma, pode demorar até dez anos para atingir um centímetro de diâmetro. Durante esse período, a mulher provavelmente não vai sentir nenhum sintoma. Mas o carcinoma pode ser identificado na mamografia, o que indica, mais uma vez, a importância fundamental e constante do exame.
Câncer de mama dói?
De um modo geral, os principais sintomas do câncer de mama surgem de forma indolor. Os nódulos, que costumam ser a primeira preocupação, geralmente não doem. Somente em casos muito avançados as mamas apresentam dor. Sendo assim, é importante não esperar sentir dor para procurar um médico especializado.
Como é o caroço do câncer de mama?
O caroço do câncer de mama pode apresentar muitos formatos e tamanhos. “Como o câncer de mama é uma doença heterogênea, o nódulo pode aparecer de várias formas”, explica a especialista. Ela afirma, porém, que a atenção deve ser dada a algum nódulo novo que não tinha aparecido em exame anterior ou àquele que já existia e mudou de tamanho. Em geral, o nódulo é duro, irregular e pode ser aderido à palpação e aos exames de imagem. Mas ele pode, também, ser regular.
Câncer de mama tem cura?
Sim. A médica ressalta que “a chance de cura é muito grande nos casos iniciais, chegando a 95%, e vai diminuindo com os graus mais avançados da doença. Por isso, a importância do rastreamento mamográfico realizado uma vez ao ano a partir dos 40 anos, e o autoexame das mamas uma vez por mês”.
Tratamento de câncer de mama
“O tratamento vai variar de acordo com o estadiamento e com o tipo de tumor, além das condições clínicas da paciente, se ela é gestante ou não, se tem presença de mutação hereditária ou não e tamanho e forma das mamas”, explica Flávia. Segundo ela, temos basicamente dois tipos de tratamento: o conservador e a mastectomia.
O tratamento conservador retira a área acometida pelo câncer com margens cirúrgicas livres ao redor e é realizada uma biópsia de um linfonodo da axila que se chama Sentinela. Associa-se a esse procedimento a radioterapia com ou sem quimioterapia. O tratamento por mastectomia, explica a médica, pode ser basicamente de três tipos: a que conserva a pele toda, a aréola e o mamilo; a que conserva só a pele; e a radical que retira toda a pele da mama, a aréola e o mamilo. Na mastectomia também se realiza a biópsia do linfonodo Sentinela.
Vale lembrar que existe uma área médica dentro da mastologia responsável pelas reparações realizadas para minimizar cicatrizes e sequelas da mama operada: a oncoplastia mamária. Ela reúne um conjunto de técnicas que dão um aspecto mais natural para a mama pós-cirurgia oncológica.
Estadiamento do câncer de mama
É importante verificar o estágio do câncer para verificar o melhor tratamento. De acordo com a especialista, eles são classificados em TNM, sendo T, o tamanho do tumor, N, linfonodos axilares suspeitos ou não, e M, se tem presença de metástases a distância. O estadiamento parte do grau 1 ao 4.
Como prevenir o câncer de mama?
A prevenção ao câncer pode ser:
- primária: conjunto de ações para evitar o surgimento do câncer;
- secundária: diagnóstico precoce.
Abaixo, as formas de prevenção mais importantes.
- Hábitos saudáveis
“A incorporação de hábitos saudáveis diminui em até 28% o risco do câncer de mama. Os mais importantes são a prática regular de atividade física, o controle da obesidade, a alimentação saudável com redução de industrializados e de alimentos processados, o controle no consumo de alcoólicos e evitar o tabagismo”, elenca Flávia.
- Exame de mamografia
“O exame de mamografia é o mais importante para o diagnóstico precoce do câncer de mama. A mamografia é o único cuidado que a gente considera como de rastreamento para o câncer de mama e ele é feito a partir dos 40 anos de idade, anualmente, como orientado pela Sociedade Brasileira de Mastologia”, explica a especialista.
- Exame genéticos
Além desses, há também os exames genéticos. Eles vão identificar o câncer hereditário, que é uma alteração genética presente em todas as células da pessoa. Esse exame deve ser indicado pelo médico após investigação do histórico da paciente.
Conhece alguém com diagnóstico de câncer de mama? Aqui você confere o depoimento de Isabela Scarioli, que recebeu o diagnóstico e passou pelo tratamento. Ela compartilha sua história e o que dizer (e o que não dizer!) para quem recebeu um diagnóstico como este. Na matéria você ainda fica sabendo como surgiu o Outubro Rosa no mundo e porque é tão importante.